CONCEITO DE MORFOLOGIA
A palavra morfologia (do grego morphē =
“forma” + logía = estudo) se refere, em língua portuguesa¹, ao estudo
da forma das palavras (MONTEIRO, 2002). A compreensão do significado do
termo, entretanto, não nos diz muito em relação à complexidade da análise
morfológica, de modo que precisamos desdobrar o termo “forma” em três graus de
análise: a estrutura, a formação e a classificação das palavras. Vejamos o
conceito de Battisti, Othero e Flores (2002), que muito pode esclarecer a este
respeito:
A
morfologia é a área da linguística que investiga as palavras e sua estrutura
interna, além de investigar os processos de formação e criação de novas
palavras nas línguas (p. 144)
Assim, concluímos que à morfologia cabe o estudo i)
da estrutura, enquanto
observação das “partes” constituintes de uma palavra, a saber, os morfemas; ii)
da formação, enquanto
consideração dos processos condicionantes de surgimento e evolução dos
vocábulos ao longo do tempo, além dos elementos que os constituem no momento
atual; iii) da classificação, enquanto
agrupamento de palavras de acordo ora com sua forma, ora com sua função, ora
com seu significado, sendo muito comum a união de dois ou até mesmo três desses
aspectos.
A classificação a partir de três aspectos é também
apresentada por José Rebouças Macambira: “as palavras existentes em qualquer
língua distribuem-se em várias classes, conforme as formas que assumem
ou as funções que desempenham, e para alguns autores conforme o sentido
que expressam” (MACAMBIRA, 2001, p. 17 – grifos do autor).
É a partir dos critérios de classificação das
palavras que chegamos às atuais dez classes de palavras da língua portuguesa: substantivo,
adjetivo, pronome, verbo, advérbio, artigo, preposição,
conjunção, numeral e interjeição.
APROFUNDANDO O ESTUDO
Como a morfologia é, antes de mais nada, o estudo
das palavras (aqui em conceito amplo), cabe esclarecer algumas questões.
A primeira delas diz respeito à afirmação que
geralmente se difunde, de que a morfologia não leva em consideração a relação
das palavras umas com as outras. O grande problema dessa opinião é que quem
mais a defende mais a costuma contradizer. Pode-se exemplificar isso com o
conceito de preposição. Geralmente definida como palavra que “liga um termo
dependente a um termo principal ou subordinante, estabelecendo entre ambos
relações de posse, modo, lugar, causa, fim, etc.” (CEGALLA, 2008, p. 268), a
preposição é um claro exemplo de consideração, dentro dos estudos morfológicos,
de uma palavra em sua relação com as outras.
A explicação para isso está no que já foi dito
acima: a mistura dos critérios formais, funcionais e semânticos para a
classificação das palavras. Em momento oportuno, no artigo intitulado Classificação
das palavras: introdução, aprofundaremos as considerações sobre este
problema. De momento, cabe deixar claro que dificilmente o estudante conseguirá
encontrar um método de classificação das palavras puramente formal, sem
relacionar termos ou recorrer ao sentido. Aqui no site Professor Weslley Barbosa, sempre que possível, buscarei apresentar as palavras a partir de cada
um dos três critérios de classificação, seguindo os passos do mestre Macambira
(2001).
O segundo esclarecimento diz respeito ao conceito
de palavra (por muitos adotado indiscriminadamente) como unidade linguística
separada das demais por espaços em branco na linha escrita. A esse respeito,
cabe recorrermos a Câmara Jr.:
Ao
contrário do critério fonológico que rege a nossa escrita, procurando
representar aproximadamente os fonemas pelas letras e dividindo as suas
sequências de acordo com as sílabas, a apresentação do vocábulo na escrita se
faz pelo critério formal. Deixa-se entre eles, obrigatoriamente, um espaço em
branco, porque, mesmo quando sem pausa entre si num único grupo de força, cada
um é considerado uma unidade mórfica de per si (CÂMARA JR., 2005, p. 69).
É evidente que há verdade nas colocações do autor,
todavia há que se ter em mente que ali ele está trabalhando com o conceito de vocábulo
formal em distinção ao vocábulo fonológico, havendo, portanto, a
necessidade de chamar atenção para tal fato. A atenção do estudante deve se
voltar para o fato de que, se o espaço em branco isola por completo um vocábulo
como através, por exemplo, não é o
que ocorre com através de, locução
prepositiva que do ponto de vista funcional se comporta como uma preposição
simples, sendo o espaço em branco insuficiente para designar a presença
independente de dois termos. Portanto, nem
sempre o espaço em branco (ou a ausência dele) será suficiente para delimitar
as unidades de análise e classificação morfológica.
Tal discussão é apresentada de forma bastante
enriquecedora por Battisti, Othero e Flores (2022, p. 145 – 147), em seu artigo
sobre “morfologia”. Lá, os autores advertem que ao longo do tempo, e dependendo
dos objetivos, “os morfólogos tiveram que trabalhar com diferentes definições
de palavra” (p. 146). Portanto, tudo depende dos objetivos e do critério
adotado. Neste site, priorizarei sempre o critério morfológico, mas não
deixarei de considerar, quando for adequado, o critério funcional.
Por último, é necessário que se tenha em mente que
não é propriamente a palavra a unidade de análise da morfologia. Se assim o é
em com, certamente não é em livros, em que ao radical livr- se juntam a vogal temática o- e a desinência de plural s, todos interessando igualmente como
unidades de análise (e todos eles são chamados de morfemas). Portanto, o que
constitui o objeto primeiro de análise da morfologia são os morfemas, “as
menores unidades formais dotadas de significado” (MONTEIRO, 2002, p. 13).
Aqui no site Professor Weslley Barbosa, meu
percurso será justamente este: partindo da consideração dos morfemas enquanto
unidades mínimas, passarei em seguida aos processos de formação das palavras e,
por fim, chegarei às classificação destas últimas. Para alcançar esse objetivo,
planejei dividir o conteúdo referente à morfologia em aproximadamente 70
artigos, que serão postados nesta página nos próximos anos.
Consulte os outros textos sobre morfologia nesta
página. Para uma navegação mais rápida e eficaz, recorra aos guias de navegação.
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NOTAS:
1 – Enfatizei que
tal significado se restringe ao âmbito da língua portuguesa porque também se
fala em “morfologia” em outras áreas do conhecimento (botânica, geologia,
computação etc.).
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Professor Weslley Barbosa