12/01/2023

MORFOLOGIA


CONCEITO DE MORFOLOGIA

 

A palavra morfologia (do grego morphē = “forma” + logía = estudo) se refere, em língua portuguesa¹, ao estudo da forma das palavras (MONTEIRO, 2002). A compreensão do significado do termo, entretanto, não nos diz muito em relação à complexidade da análise morfológica, de modo que precisamos desdobrar o termo “forma” em três graus de análise: a estrutura, a formação e a classificação das palavras. Vejamos o conceito de Battisti, Othero e Flores (2002), que muito pode esclarecer a este respeito:

 

A morfologia é a área da linguística que investiga as palavras e sua estrutura interna, além de investigar os processos de formação e criação de novas palavras nas línguas (p. 144)

 

Assim, concluímos que à morfologia cabe o estudo i) da estrutura, enquanto observação das “partes” constituintes de uma palavra, a saber, os morfemas; ii) da formação, enquanto consideração dos processos condicionantes de surgimento e evolução dos vocábulos ao longo do tempo, além dos elementos que os constituem no momento atual; iii) da classificação, enquanto agrupamento de palavras de acordo ora com sua forma, ora com sua função, ora com seu significado, sendo muito comum a união de dois ou até mesmo três desses aspectos.

 

A classificação a partir de três aspectos é também apresentada por José Rebouças Macambira: “as palavras existentes em qualquer língua distribuem-se em várias classes, conforme as formas que assumem ou as funções que desempenham, e para alguns autores conforme o sentido que expressam” (MACAMBIRA, 2001, p. 17 – grifos do autor).

 

É a partir dos critérios de classificação das palavras que chegamos às atuais dez classes de palavras da língua portuguesa: substantivo, adjetivo, pronome, verbo, advérbio, artigo, preposição, conjunção, numeral e interjeição.

 

APROFUNDANDO O ESTUDO

 

Como a morfologia é, antes de mais nada, o estudo das palavras (aqui em conceito amplo), cabe esclarecer algumas questões.

 

A primeira delas diz respeito à afirmação que geralmente se difunde, de que a morfologia não leva em consideração a relação das palavras umas com as outras. O grande problema dessa opinião é que quem mais a defende mais a costuma contradizer. Pode-se exemplificar isso com o conceito de preposição. Geralmente definida como palavra que “liga um termo dependente a um termo principal ou subordinante, estabelecendo entre ambos relações de posse, modo, lugar, causa, fim, etc.” (CEGALLA, 2008, p. 268), a preposição é um claro exemplo de consideração, dentro dos estudos morfológicos, de uma palavra em sua relação com as outras.

 

A explicação para isso está no que já foi dito acima: a mistura dos critérios formais, funcionais e semânticos para a classificação das palavras. Em momento oportuno, no artigo intitulado Classificação das palavras: introdução, aprofundaremos as considerações sobre este problema. De momento, cabe deixar claro que dificilmente o estudante conseguirá encontrar um método de classificação das palavras puramente formal, sem relacionar termos ou recorrer ao sentido. Aqui no site Professor Weslley Barbosa, sempre que possível, buscarei apresentar as palavras a partir de cada um dos três critérios de classificação, seguindo os passos do mestre Macambira (2001).

 

O segundo esclarecimento diz respeito ao conceito de palavra (por muitos adotado indiscriminadamente) como unidade linguística separada das demais por espaços em branco na linha escrita. A esse respeito, cabe recorrermos a Câmara Jr.:

 

Ao contrário do critério fonológico que rege a nossa escrita, procurando representar aproximadamente os fonemas pelas letras e dividindo as suas sequências de acordo com as sílabas, a apresentação do vocábulo na escrita se faz pelo critério formal. Deixa-se entre eles, obrigatoriamente, um espaço em branco, porque, mesmo quando sem pausa entre si num único grupo de força, cada um é considerado uma unidade mórfica de per si (CÂMARA JR., 2005, p. 69).

 

É evidente que há verdade nas colocações do autor, todavia há que se ter em mente que ali ele está trabalhando com o conceito de vocábulo formal em distinção ao vocábulo fonológico, havendo, portanto, a necessidade de chamar atenção para tal fato. A atenção do estudante deve se voltar para o fato de que, se o espaço em branco isola por completo um vocábulo como através, por exemplo, não é o que ocorre com através de, locução prepositiva que do ponto de vista funcional se comporta como uma preposição simples, sendo o espaço em branco insuficiente para designar a presença independente de dois termos. Portanto, nem sempre o espaço em branco (ou a ausência dele) será suficiente para delimitar as unidades de análise e classificação morfológica.

 

Tal discussão é apresentada de forma bastante enriquecedora por Battisti, Othero e Flores (2022, p. 145 – 147), em seu artigo sobre “morfologia”. Lá, os autores advertem que ao longo do tempo, e dependendo dos objetivos, “os morfólogos tiveram que trabalhar com diferentes definições de palavra” (p. 146). Portanto, tudo depende dos objetivos e do critério adotado. Neste site, priorizarei sempre o critério morfológico, mas não deixarei de considerar, quando for adequado, o critério funcional.

 

Por último, é necessário que se tenha em mente que não é propriamente a palavra a unidade de análise da morfologia. Se assim o é em com, certamente não é em livros, em que ao radical livr- se juntam a vogal temática o- e a desinência de plural s, todos interessando igualmente como unidades de análise (e todos eles são chamados de morfemas). Portanto, o que constitui o objeto primeiro de análise da morfologia são os morfemas, “as menores unidades formais dotadas de significado” (MONTEIRO, 2002, p. 13).

 

Aqui no site Professor Weslley Barbosa, meu percurso será justamente este: partindo da consideração dos morfemas enquanto unidades mínimas, passarei em seguida aos processos de formação das palavras e, por fim, chegarei às classificação destas últimas. Para alcançar esse objetivo, planejei dividir o conteúdo referente à morfologia em aproximadamente 70 artigos, que serão postados nesta página nos próximos anos.

 

Consulte os outros textos sobre morfologia nesta página. Para uma navegação mais rápida e eficaz, recorra aos guias de navegação.

 

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NOTAS:

 

1 – Enfatizei que tal significado se restringe ao âmbito da língua portuguesa porque também se fala em “morfologia” em outras áreas do conhecimento (botânica, geologia, computação etc.).

 

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Professor Weslley Barbosa