Os fonemas são unidades sonoras, mínimas e destituídas de sentido, presentes em
todas as línguas naturais. São, vulgarmente falando, os sons da fala, embora
por vezes percebamos não apenas um fonema de cada vez, mas sim as sílabas.
Ao especificar
como fonemas as unidades sonoras “presentes em todas as línguas naturais”, chamo
atenção para o fato de que apenas consideramos fonemas os sons produzidos dentro
de uma sequência linguística, possuindo característica associativa e distintiva.
Conforme lembra Mikaela Roberto (2016, p. 22): nem todo som produzido pelo homem
serve para propósitos linguísticos, nem pode ser utilizado em combinação com
outros em uma cadeia sonora significativa”.
Já a noção de
“unidades mínimas”, também presente no conceito inicial, estabelece que uma sequência linguística é passível de
segmentação até um determinado ponto e, a partir de então, não mais se pode
dividi-la. Esse estágio final da segmentação linguística é o fonema. Veja:
Conforme se
percebe, após chegarmos ao âmbito dos fonemas, no nível da segmentação fônica, não
mais podemos dividir os elementos, sendo estes as menores unidades de uma
língua.
Quanto à definição
de fonemas como unidades que não têm sentido, deve-se ter em mente que uma unidade sonora, isoladamente, não
significa nada em uma língua. Por exemplo, pense no fonema /p/. Assim,
isolado, ele nada tem a representar. Quando, entretanto, o colocamos em relação
a outros sons da língua, dentro de um sistema organizado, podemos conseguir a
palavra pato [pa ‘tu], por exemplo,
esta sim, dotada de sentido.
Todavia, o fato de
o fonema em si não ter sentido não retira sua importância para a constituição
de sentidos numa sequência sonora. Veja o que diz Battisti sobre o fonema: “é a
unidade mínima de som capaz de produzir diferença de significado” (BATTISTI,
2014, p. 66). Assim, embora o fonema não possua significado, sua alternância
com outros fonemas dentro de uma sequência linguística pode modificar o significado
de tal sequência. Portanto, os fonemas
são unidades distintivas.
A alternância de fonemas dentro de diferentes
sequências linguísticas é fundamental para que reconheçamos a existência de
mais de um significante
e, portanto, para que reconheçamos que tais palavras remetem a coisas
distintas. Segundo Silva (2015, p. 126), “sons que estejam em oposição – por
exemplo [f] e [v] em ‘faca’ e ‘vaca’ – são caracterizados como unidades
fonêmicas distintas e são denominados fonemas”
(grifo da autora).
É assim que ocorre
com a distinção entre os fonemas /p/ e /b/ nas palavras a seguir:
pata
[‘pa tǝ]
bata
[‘ba tǝ]
Logo, embora /p/ e /b/ não possuam significado
enquanto unidades sonoras isoladas, sua relação com outros fonemas, dentro de
uma sequência linguística adequada, acaba gerando ora um, ora outro
significante e, consequentemente, gerando a referência a significados
distintos.
De tudo o que
ficou dito até o momento pode-se concluir que os fonemas são passíveis de
oporem-se uns aos outros (dentro do eixo paradigmático), mas também, e
principalmente, têm a característica de se relacionar uns com os outros, de
modo a construírem o significado (dentro do eixo sintagmático).
Joaquim Mattoso
Câmara Júnior trata dessa questão da seguinte forma:
Cada fonema, ou
seja, cada conjunto de certos traços distintivos, opõe entre si as formas da
língua, que o possuem, em face de outras formas, que não o possuem, ou possuem
em seu lugar outro fonema; por exemplo, em português: ala, vala, vela, vê-la,
vila [...] (CÂMARA JÚNIOR, 2005, p. 33).
Uma questão que
não pode passar despercebida do estudante é que os fonemas não se confundem com as letras. Na verdade, as letras ou
grafemas são apenas tentativas de reproduzir, na escrita, os sons da fala
humana. Daí resulta que não há
correspondência entre o número de letras e o de fonemas. Temos, por
exemplo, casos em que um fonema é representado por mais de uma letra, como o /z/, passível de ser grafado com z, s, x; casos em que mais de um
fonema são representados por uma única letra, como /s/ e /z/, representados por s; casos em que uma letra não representa fonema algum, como em
hora, em que o h não
corresponde a nenhuma realização sonora [‘ɔ rǝ].
Não há muitos
fonemas numa língua. Justamente por seu caráter associativo, os fonemas têm número reduzido, podendo, em
sua relação com demais, formar infinitas unidades linguísticas (sílabas,
palavras, frases, textos...).
Há dois tipos de fonemas: os vocálicos e os
consonânticos. Estudaremos cada um desses tipos de fonemas nos
textos Sistema Vocálico e
Sistema consonantal, em
artigos posteriores aqui no site Professor Weslley Barbosa.
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Professor
Weslley Barbosa