10/01/2023

COMUNICAÇÃO


Comunicação é a transmissão de uma mensagem de um emissor para um receptor (CRYSTAL, 2000). Isso quer dizer que a comunicação, a princípio, não é uma característica unicamente humana. Animais podem se comunicar (TRASK, 2015, p. 59) por meio de sons, movimentos e outros recursos, porém, a comunicação entre eles visa unicamente à saciedade dos instintos ou à preservação da espécie, de modo que seus modos rudimentares de transmissão de informação não chegam a constituir uma linguagem. Nas palavras de Francisco da Silva Borba:

 

A atividade de comunicação é uma constante em qualquer escala da vida animal: todos os animais se comunicam de alguma forma e em algum período de sua vida seja por necessidade de sobrevivência seja por imperativos biológicos. [...] É na espécie humana, entretanto, que a comunicação atinge o seu mais alto grau de complexidade só compensada por igual eficiência (BORBA, 2008, p. 9 – grifo do autor).

 

Do ponto de vista linguístico, a comunicação interessa quando é constituída: i) pela emissão de uma mensagem verbal por um indivíduo (locutor); ii) por outro lado, recebida e compreendida por outro indivíduo (interlocutor). Por isso nos diz Jean Dubois:

 

A comunicação é a troca verbal entre um falante, que produz um enunciado destinado a outro falante, o interlocutor, de quem ele solicita a escuta e/ou uma resposta explícita ou implícita (segundo o tipo de enunciado) (DUBOIS et al, 2006, p. 129 – grifo do autor).  

 

A comunicação, como atividade humana, sempre ocorre dentro de um contexto sociodiscursivo e, por isso, sujeita-se a interferências, a mal-entendidos, a vazios, entre outras dificuldades, embora, na maioria das vezes, cumpra satisfatoriamente a sua função.

 

Sendo constituída dentro de um contexto, onde participam pelo menos dois seres humanos, a comunicação implica o estabelecimento de um acordo entre os interlocutores. Assim, a situação de uso trata de estabelecer os limites lógicos a partir dos quais a comunicação irá se desenvolver, a partir do conhecimento (ou não) que os interlocutores têm um do outro, do tema que será tratado, da posição social dos indivíduos, entre outras questões. Além disso, a própria escolha do léxico obedecerá às “normas” estabelecidas no momento em que se iniciou a interação.

 

José Carlos de Azeredo explica essa questão da seguinte forma:

 

A interação das pessoas, com vista à troca de conteúdos e à respectiva produção de sentido, requer, portanto, antes de qualquer coisa, que haja entre elas um acordo ou entrosamento sobre a representação que fazem do evento em que estão tomando parte. Este acordo é decisivo para uma definição dos limites da significação que atribuem às palavras e expressões que empregam (AZEREDO, 2013, p. 53 – grifo nosso)

 

A existência desse acordo ou entrosamento dentro de um contexto comunicativo amplia as possibilidades significativas de uma sentença simples. Pensemos no seguinte exemplo:

 

Duas pessoas estão sentadas na sala de uma residência. O indivíduo A vê TV e o indivíduo B lê um livro. Em determinado momento, B diz: nossa, o volume está muito alto. Imediatamente, A pega o controle remoto e diminui o volume.

 

Da frase do indivíduo B e da reação do indivíduo A podemos retirar as seguintes conclusões:

 

1 O volume da TV está muito alto (explícito);

 

2 O volume alto da TV está atrapalhando a leitura do indivíduo B (implícito);

 

3 O indivíduo B deseja que o indivíduo A diminua o volume da TV (implícito).

 

4 O indivíduo A entende a mensagem e executa a ação esperada por B.

 

Perceba-se que o indivíduo B não pede explicitamente para o indivíduo A baixar o volume da TV. Todavia, o contexto de comunicação, o fato de um indivíduo ver o outro com o livro, aliado ao conhecimento de mundo que todos temos, de que a leitura pressupõe silêncio, tudo isso determina a compreensão do indivíduo A e o leva a baixar o volume da TV.

 

Logo, é inegável a importância do contexto sociodiscursivo para a compreensão de todos os sentidos de uma sentença ou de um texto. Fora do contexto de comunicação, a linguagem é um sistema puramente abstrato, somente válida para fins científicos de estudo de estruturas mínimas. Nas mãos do linguista ou do gramático, seja um exemplo criado artificialmente, seja o mais rico artefato comunicativo retirado de uma situação real, o que há é corpus de estudo, linguagem em situação de amostragem, exemplo.

 

_______________

Professor Weslley Barbosa