Comunicação é
a transmissão de uma mensagem de um emissor para um receptor (CRYSTAL, 2000). Isso quer dizer que a
comunicação, a princípio, não é uma característica unicamente humana. Animais
podem se comunicar (TRASK, 2015, p. 59) por meio de sons, movimentos e outros
recursos, porém, a comunicação entre eles visa unicamente à saciedade dos
instintos ou à preservação da espécie, de modo que seus modos rudimentares de
transmissão de informação não chegam a constituir uma linguagem. Nas palavras
de Francisco da Silva Borba:
A atividade de comunicação é uma constante em
qualquer escala da vida animal: todos os animais se comunicam de alguma forma e
em algum período de sua vida seja por necessidade de sobrevivência seja por
imperativos biológicos. [...] É na espécie humana, entretanto, que a
comunicação atinge o seu mais alto grau de complexidade só compensada por igual
eficiência (BORBA, 2008, p. 9 – grifo do autor).
Do ponto de vista linguístico, a comunicação
interessa quando é constituída: i) pela emissão de uma mensagem verbal por um
indivíduo (locutor); ii) por outro lado, recebida e compreendida por outro
indivíduo (interlocutor). Por isso nos diz Jean Dubois:
A comunicação
é a troca verbal entre um falante, que produz um enunciado destinado a outro
falante, o interlocutor, de quem ele solicita a escuta e/ou uma resposta
explícita ou implícita (segundo o tipo de enunciado) (DUBOIS et al, 2006, p.
129 – grifo do autor).
A comunicação, como atividade humana, sempre
ocorre dentro de um contexto sociodiscursivo
e, por isso, sujeita-se a interferências, a mal-entendidos, a vazios, entre
outras dificuldades, embora, na maioria das vezes, cumpra satisfatoriamente a
sua função.
Sendo constituída dentro de um contexto, onde
participam pelo menos dois seres humanos, a
comunicação implica o estabelecimento de um acordo entre os interlocutores.
Assim, a situação de uso trata de estabelecer os limites lógicos a partir dos
quais a comunicação irá se desenvolver, a partir do conhecimento (ou não) que
os interlocutores têm um do outro, do tema que será tratado, da posição social
dos indivíduos, entre outras questões. Além disso, a própria escolha do léxico obedecerá às “normas”
estabelecidas no momento em que se iniciou a interação.
José Carlos de Azeredo explica essa questão
da seguinte forma:
A interação das pessoas, com vista à troca de
conteúdos e à respectiva produção de sentido, requer, portanto, antes de
qualquer coisa, que haja entre elas um acordo
ou entrosamento sobre a representação que fazem do evento em que estão
tomando parte. Este acordo é decisivo para uma definição dos limites da
significação que atribuem às palavras e expressões que empregam (AZEREDO, 2013,
p. 53 – grifo nosso)
A existência desse acordo ou entrosamento
dentro de um contexto comunicativo amplia as possibilidades significativas de
uma sentença simples. Pensemos no seguinte exemplo:
Duas pessoas estão sentadas na sala de uma
residência. O indivíduo A vê TV e o indivíduo B lê um livro. Em determinado
momento, B diz: nossa, o volume está muito alto. Imediatamente, A pega o controle remoto e diminui o
volume.
Da frase do indivíduo B e da reação do
indivíduo A podemos retirar as seguintes conclusões:
1 O volume da TV está muito alto (explícito);
2 O volume alto da TV está atrapalhando a
leitura do indivíduo B (implícito);
3 O indivíduo B deseja que o indivíduo
A diminua o volume da TV (implícito).
4 O indivíduo A entende a mensagem e
executa a ação esperada por B.
Perceba-se que o indivíduo B não pede
explicitamente para o indivíduo A baixar o volume da TV. Todavia, o
contexto de comunicação, o fato de um indivíduo ver o outro com o livro, aliado
ao conhecimento de mundo que todos temos, de que a leitura pressupõe silêncio,
tudo isso determina a compreensão do indivíduo A e o leva a baixar o volume da
TV.
Logo, é inegável a importância do contexto
sociodiscursivo para a compreensão de todos os sentidos de uma sentença ou de
um texto. Fora do contexto de
comunicação, a linguagem é um sistema puramente abstrato, somente válida
para fins científicos de estudo de estruturas mínimas. Nas mãos do linguista ou
do gramático, seja um exemplo criado artificialmente, seja o mais rico artefato
comunicativo retirado de uma situação real, o que há é corpus de estudo,
linguagem em situação de amostragem, exemplo.
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Professor Weslley Barbosa