01/10/2022

ROMANTISMO


Tendência estética, cultural e filosófica de grande impacto no pensamento intelectual e científico, o Romantismo surgiu a partir da segunda metade do século XVIII, na Alemanha e na Inglaterra. A partir de então, difundiu-se para outras partes da Europa e do mundo. Chegou à França em 1802 e a Portugal em 1825. Ao Brasil, o Romantismo chegou em 1836.

 

Surgido num contexto de profundas modificações no plano político e social, assentado nos ideais revolucionários que começaram a transformar o mundo a partir de 1789, na França, e no avanço do capitalismo a partir da Revolução Industrial, o Romantismo coincide com a crise da nobreza, a ascensão da burguesia, a independência das colônias americanas, a explosão da industrialização e o surgimento da classe do operariado (BOSI, 2006).

 

Pelo que ficou dito acima, percebe-se que nem sua gênese nem seus impactos estão circunscritos apenas ao campo estético. Nas palavras de Massaud Moisés:

 

O Romantismo constitui profunda e vasta revolução cultural cujos efeitos não cessaram até os nossos dias. Além das Letras e das Artes, o conhecimento científico, filosófico e religioso sofreu um impacto que ainda repercute na crise permanente da cultura moderna. Na verdade, as metamorfoses contínuas e galopantes sofridas pela atividade artística desde o começo do século XX apenas prolongam e desenvolvem matrizes culturais postas em circulação com o advento do Romantismo: este, como designativo de um novo ciclo de cultura, em que a cosmovisão hebraico-cristã é posta em xeque, perdura até os dias de hoje (2008, p. 315).

 

A longa citação se justifica pelo fato de sintetizar todo um complexo social e cultural que entra em choque e se reconstrói a partir do advento do Romantismo e cujos abalos ali inspirados são sentidos até hoje. Portanto, falar de Romantismo é falar de história e de política, além de falar de arte e de literatura.

 

No Brasil, embora chegado tardiamente (iniciado em 1836 com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães), o movimento logo ganhou singular importância, uma vez que ficou a cargo dos autores do período o desenvolvimento de uma “cultura nacional” para a pátria recém-formada (apenas 14 anos antes o Brasil tornara-se independente). Alfredo Bosi delimita com muita precisão o contexto sobre o qual o Romantismo erigiu suas bases no nosso país:

 

O Brasil, egresso do puro colonialismo, mantém as colunas do poder agrário: o latifúndio, o escravismo, a economia de exportação. E segue a rota da monarquia conservadora após um breve surto de erupções republicanas, amiudadas durante a Regência (2006, p. 96)

 

No campo estético e literário, o Romantismo buscava superar a influência clássica. Daí poder-se falar em uma série de oposições entre românticos e classicistas, conforme vermos na tabela abaixo:

 

ASPECTO

CLÁSSICOS

ROMANTICOS

Composição formal

regras; normas; rigidez

liberdade criadora

Noção de Gêneros

estanques; imutáveis

variáveis; mescláveis

Ideologia

racional

sentimental

Visão de mundo

universalismo

individualismo

Noção do “belo”

perfeição

relatividade

 

É nesse período que passam a ocupar lugar central nas artes em geral e na literatura a terra natal, a pátria, a natureza, vistas como verdadeiras personificações do individual, como projeções do “eu” (“o fulcro da visão romântica do mundo é o sujeito” – BOSI, 2006, p. 97). Nacionalista, o romântico ama sua pátria, exalta sua língua, glorifica a história do seu povo. Daí ser o Romantismo o grande responsável pela constituição de uma cultura local, de uma “identidade nacional”, afirmativa, original, para as nações recém independentes das Américas. Por isso a exaltação do passado, do nativo, da fauna e da flora. Ainda segundo Bosi: “a nação afigura-se ao patriota do século XIX como uma ideia-força que tudo vivifica” (idem).

 

A isso tudo se some o movimento de reclusão do indivíduo no próprio “eu” (MOISÉS, 2008, p. 324). O sentimento aflora e são os imperativos da paixão que se impõem a qualquer tipo de razão. O passo seguinte nesse processo é a crise existencial. Não encontrando em si mesmo as respostas que procurava, o romântico lança-se na desilusão, no pessimismo, na crise existencial, na angústia, em um amplo jorro de sentimentos melancólicos que acabam por desembocar naquilo que ficou conhecido como o mal do século. Daí a chegar-se no culto da morte é um passo:

 

A morte, liricamente emoldurada pela imaginação febril, acenava aos românticos como a saída natural para existências que pareciam apenas a antecâmara do nada. Numerosos românticos sederam-lhe ao fascínio, inclusive porque lhes repugnava a ideia de velhice (MOISÉS, idem, ibdem).

 

Segue-se uma lista apresentando alguns dos principais autores do Romantismo, em Portugal e no Brasil.

 

PORTUGAL

BRASIL

Alexandre Herculano

Álvares de Azevedo

Almeida Garret

Bernardo Guimarães

Álvaro do Carvalhal

Casimiro de Abreu

Antônio Feliciano de Castilho

Gonçalves Dias

Camilo Castelo Branco

Joaquim Manuel de Macedo

João de Deus

José de Alencar

João de Lemos

Manuel Antônio de Almeida

Júlio Dinis

Martins Pena

Rodrigo Paganino

Sousândrade

Soares de Passos

Visconde de Taunay

 

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Professor Weslley Barbosa