Tendência estética, cultural e filosófica de grande
impacto no pensamento intelectual e científico, o Romantismo surgiu a partir da
segunda metade do século XVIII, na Alemanha e na Inglaterra. A partir de então,
difundiu-se para outras partes da Europa e do mundo. Chegou à França em 1802 e
a Portugal em 1825. Ao Brasil, o Romantismo chegou em 1836.
Surgido num contexto de profundas modificações no
plano político e social, assentado nos ideais revolucionários que começaram a
transformar o mundo a partir de 1789, na França, e no avanço do capitalismo a
partir da Revolução Industrial, o Romantismo coincide com a crise da nobreza, a
ascensão da burguesia, a independência das colônias americanas, a explosão da
industrialização e o surgimento da classe do operariado (BOSI, 2006).
Pelo que ficou dito acima, percebe-se que nem sua
gênese nem seus impactos estão circunscritos apenas ao campo estético. Nas
palavras de Massaud Moisés:
O Romantismo
constitui profunda e vasta revolução cultural cujos efeitos não cessaram até os
nossos dias. Além das Letras e das Artes, o conhecimento científico, filosófico
e religioso sofreu um impacto que ainda repercute na crise permanente da
cultura moderna. Na verdade, as metamorfoses contínuas e galopantes sofridas
pela atividade artística desde o começo do século XX apenas prolongam e
desenvolvem matrizes culturais postas em circulação com o advento do Romantismo:
este, como designativo de um novo ciclo de cultura, em que a cosmovisão
hebraico-cristã é posta em xeque, perdura até os dias de hoje (2008, p. 315).
A longa citação se justifica pelo fato de sintetizar
todo um complexo social e cultural que entra em choque e se reconstrói a partir
do advento do Romantismo e cujos abalos ali inspirados são sentidos até hoje. Portanto,
falar de Romantismo é falar de história e de política, além de falar de arte e
de literatura.
No Brasil, embora chegado tardiamente (iniciado em
1836 com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de
Magalhães), o movimento logo ganhou singular importância, uma vez que ficou a
cargo dos autores do período o desenvolvimento de uma “cultura nacional” para a
pátria recém-formada (apenas 14 anos antes o Brasil tornara-se independente).
Alfredo Bosi delimita com muita precisão o contexto sobre o qual o Romantismo
erigiu suas bases no nosso país:
O
Brasil, egresso do puro colonialismo, mantém as colunas do poder agrário: o
latifúndio, o escravismo, a economia de exportação. E segue a rota da monarquia
conservadora após um breve surto de erupções republicanas, amiudadas durante a Regência
(2006, p. 96)
No campo estético e literário, o Romantismo buscava
superar a influência clássica. Daí poder-se falar em uma série de oposições
entre românticos e classicistas, conforme vermos na tabela abaixo:
ASPECTO |
CLÁSSICOS |
ROMANTICOS |
Composição formal |
regras; normas; rigidez |
liberdade criadora |
Noção de Gêneros |
estanques; imutáveis |
variáveis; mescláveis |
Ideologia |
racional |
sentimental |
Visão de mundo |
universalismo |
individualismo |
Noção do “belo” |
perfeição |
relatividade |
É nesse período que passam a ocupar lugar central
nas artes em geral e na literatura a terra natal, a pátria, a natureza, vistas
como verdadeiras personificações do individual, como projeções do “eu” (“o fulcro
da visão romântica do mundo é o sujeito” – BOSI, 2006, p. 97). Nacionalista, o
romântico ama sua pátria, exalta sua língua, glorifica a história do seu povo.
Daí ser o Romantismo o grande responsável pela constituição de uma cultura
local, de uma “identidade nacional”, afirmativa, original, para as nações recém
independentes das Américas. Por isso a exaltação do passado, do nativo, da
fauna e da flora. Ainda segundo Bosi: “a nação afigura-se ao patriota do século
XIX como uma ideia-força que tudo vivifica” (idem).
A isso tudo se some o movimento de reclusão do
indivíduo no próprio “eu” (MOISÉS, 2008, p. 324). O sentimento aflora e são os
imperativos da paixão que se impõem a qualquer tipo de razão. O passo seguinte
nesse processo é a crise existencial. Não encontrando em si mesmo as respostas
que procurava, o romântico lança-se na desilusão, no pessimismo, na crise
existencial, na angústia, em um amplo jorro de sentimentos melancólicos que
acabam por desembocar naquilo que ficou conhecido como o mal do século. Daí a chegar-se no culto da morte é um passo:
A
morte, liricamente emoldurada pela imaginação febril, acenava aos românticos como
a saída natural para existências que pareciam apenas a antecâmara do nada.
Numerosos românticos sederam-lhe ao fascínio, inclusive porque lhes repugnava a
ideia de velhice (MOISÉS, idem, ibdem).
Segue-se uma lista apresentando alguns dos
principais autores do Romantismo, em Portugal e no Brasil.
PORTUGAL |
BRASIL |
Alexandre Herculano |
Álvares de Azevedo |
Almeida Garret |
Bernardo Guimarães |
Álvaro do Carvalhal |
Casimiro de Abreu |
Antônio Feliciano de Castilho |
Gonçalves Dias |
Camilo Castelo Branco |
Joaquim Manuel de Macedo |
João de Deus |
José de Alencar |
João de Lemos |
Manuel Antônio de Almeida |
Júlio Dinis |
Martins Pena |
Rodrigo Paganino |
Sousândrade |
Soares de Passos |
Visconde de Taunay |
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Professor
Weslley Barbosa