Tema muito importante nos
estudos linguísticos é o relacionado aos sons da fala. A preocupação não está
apenas em dar conta da existência de tais sons, mas da sua produção e da sua função
dentro do sistema linguístico. Neste artigo, poderemos ter uma noção
introdutória do que são a fonética e a fonologia, disciplinas que se preocupam
com os sons da fala humana, cada uma a partir de um ponto de vista e visando
objetivos distintos.
FONÉTICA
É a ciência que se
preocupa com o caráter fisiológico dos sons, ou seja, leva em conta a produção
de tais sons, descrevendo-a. Assim entendida, a fonética procura determinar as
características dos sons que produzimos, fornecendo “métodos para sua
descrição, classificação e transcrição” (CRYSTAL, 2000, p. 114).
Justamente por sua
preocupação articulatória e fisiológica, a fonética não leva em consideração a
função que os sons possuem dentro do sistema linguístico. Basta, para ela, que
o som exista (e, prioritariamente, faça parte de uma língua natural) para que
haja o interesse em descrevê-lo. O objeto de estudo da fonética é o fone.
Para Battisti, Othero e
Flores (2022, p. 66):
Em linguística contemporânea, a fonética é entendida
como a área dos estudos linguísticos cujo objeto central é a realização sonora
das línguas naturais.
Segundo Silva (2015), a fonética
pode ser dividida em quatro ramos, conforme suas áreas de interesse:
Fonética articulatória: Constituindo a própria descrição dos aspectos fisiológicos e
articulatórios que concorrem para a produção dos sons da fala.
Fonética auditiva:
Preocupando-se com a percepção, ou seja, a reação diante dos sons da fala,
focando seu olhar no ouvinte e os órgãos responsáveis por tal percepção
(ouvido, cérebro etc.).
Fonética acústica: Área que
estuda as propriedades físicas dos sons da fala enquanto realidades acústicas
(ondas sonoras) externas aos indivíduos, ou seja, no momento em que transitam
do emissor para o receptor.
Fonética instrumental: Utilizando-se de instrumentos e/ou máquinas para estudar as
propriedades físicas dos sons. Para Crystal (2000, p. 114), entretanto, a
fonética instrumental pode constituir-se, na verdade, num procedimento para
aperfeiçoar o estudo de qualquer uma das três áreas acima, podendo auxiliar na
medição do fluxo de ar (o que entraria na fonética articulatória) ou na análise
das ondas sonoras (algo claramente encaixável nos interesses da fonética
acústica). Neste caso, não seriam quatro áreas de interesse, mas três áreas e
um método que transita entre todas. Tenho concordado com Crystal!
FONOLOGIA
É a ciência que estuda os
sons da fala a partir de sua função linguística, ou seja, a partir daquilo que
constitui o seu traço distintivo dentro do sistema linguístico, em oposição a
outros sons. Assim, à fonologia cabe a consideração dos sons a partir de suas características
combinatórias e opositivas, com vistas a formar um complexo dotado de sentidos
dentro de uma língua natural. O objeto de estudo da fonologia é o fonema.
Nas palavras de David
Crystal:
De todos os inúmeros sons que o aparelho vocal
humano é capaz de produzir, e que são estudados pela fonética, apenas um número
relativamente pequeno é usado distintivamente em uma língua (2000, p. 115).
Nesse sentido, é possível
perceber que o domínio da fonética é bem mais amplo que o da fonologia, por não
se dedicar unicamente aos sons que possuem natureza distintiva e combinatória.
Segundo Dubois et al
(2005, p. 285), existem dois grandes domínios na fonologia:
Fonemática: estudando as unidades
distintivas mínimas, ou fonemas, as regras que determinam sua combinação etc.
Prosódia: estudando as
características que extrapolam os fonemas propriamente ditos, optando pela
consideração do acento, do tom, da entoação etc.
Já para Battisti, Othero
e Flores (2022, p. 75), a fonologia divide-se em segmental, prosódica e
lexical.
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OBSERVAÇÃO:
Estudar fonética e fonologia por meio de um livro de
gramática certamente não há de ser tarefa fácil. Para se ter uma ideia, a
imprecisão terminológica chega a ser tão problemática que é capaz de o
estudante sair da leitura sabendo menos do que sabia antes de iniciar o estudo.
Muitos gramáticos confundem fonema com letra, vogal
com semivogal, entre outras coisas do tipo. Poucas são as obras que bebem
verdadeiramente das teorias fonéticas e fonológicas e disponibilizam ao público
um material atualizado e adequado aos conceitos dessas duas ciências. Um grande
exemplo de imprecisão terminológica é a Gramática
Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2015), obra que consideramos como
uma das melhores para o estudo da norma culta, mas que, entretanto, possui uma
desatualizada (e por vezes problemática) parte sobre fonética (seus comentários
sobre a semivogal dão uma mostra disso). Mas Almeida não é o único. Gramáticos
como Cegalla (2008) e Bechara (2015) também trazem alguns equívocos, como a confusão
entre letra e fonema.
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Professor Weslley Barbosa