08/09/2022

FONÉTICA E FONOLOGIA


Tema muito importante nos estudos linguísticos é o relacionado aos sons da fala. A preocupação não está apenas em dar conta da existência de tais sons, mas da sua produção e da sua função dentro do sistema linguístico. Neste artigo, poderemos ter uma noção introdutória do que são a fonética e a fonologia, disciplinas que se preocupam com os sons da fala humana, cada uma a partir de um ponto de vista e visando objetivos distintos.

 

FONÉTICA


É a ciência que se preocupa com o caráter fisiológico dos sons, ou seja, leva em conta a produção de tais sons, descrevendo-a. Assim entendida, a fonética procura determinar as características dos sons que produzimos, fornecendo “métodos para sua descrição, classificação e transcrição” (CRYSTAL, 2000, p. 114).

 

Justamente por sua preocupação articulatória e fisiológica, a fonética não leva em consideração a função que os sons possuem dentro do sistema linguístico. Basta, para ela, que o som exista (e, prioritariamente, faça parte de uma língua natural) para que haja o interesse em descrevê-lo. O objeto de estudo da fonética é o fone.

 

Para Battisti, Othero e Flores (2022, p. 66):

 

Em linguística contemporânea, a fonética é entendida como a área dos estudos linguísticos cujo objeto central é a realização sonora das línguas naturais.

        

Segundo Silva (2015), a fonética pode ser dividida em quatro ramos, conforme suas áreas de interesse:

 

Fonética articulatória: Constituindo a própria descrição dos aspectos fisiológicos e articulatórios que concorrem para a produção dos sons da fala.

 

Fonética auditiva: Preocupando-se com a percepção, ou seja, a reação diante dos sons da fala, focando seu olhar no ouvinte e os órgãos responsáveis por tal percepção (ouvido, cérebro etc.).

 

Fonética acústica: Área que estuda as propriedades físicas dos sons da fala enquanto realidades acústicas (ondas sonoras) externas aos indivíduos, ou seja, no momento em que transitam do emissor para o receptor.

 

Fonética instrumental: Utilizando-se de instrumentos e/ou máquinas para estudar as propriedades físicas dos sons. Para Crystal (2000, p. 114), entretanto, a fonética instrumental pode constituir-se, na verdade, num procedimento para aperfeiçoar o estudo de qualquer uma das três áreas acima, podendo auxiliar na medição do fluxo de ar (o que entraria na fonética articulatória) ou na análise das ondas sonoras (algo claramente encaixável nos interesses da fonética acústica). Neste caso, não seriam quatro áreas de interesse, mas três áreas e um método que transita entre todas. Tenho concordado com Crystal!

 

FONOLOGIA

 

É a ciência que estuda os sons da fala a partir de sua função linguística, ou seja, a partir daquilo que constitui o seu traço distintivo dentro do sistema linguístico, em oposição a outros sons. Assim, à fonologia cabe a consideração dos sons a partir de suas características combinatórias e opositivas, com vistas a formar um complexo dotado de sentidos dentro de uma língua natural. O objeto de estudo da fonologia é o fonema.

 

Nas palavras de David Crystal:

 

De todos os inúmeros sons que o aparelho vocal humano é capaz de produzir, e que são estudados pela fonética, apenas um número relativamente pequeno é usado distintivamente em uma língua (2000, p. 115).

 

Nesse sentido, é possível perceber que o domínio da fonética é bem mais amplo que o da fonologia, por não se dedicar unicamente aos sons que possuem natureza distintiva e combinatória.

        

Segundo Dubois et al (2005, p. 285), existem dois grandes domínios na fonologia:

 

Fonemática: estudando as unidades distintivas mínimas, ou fonemas, as regras que determinam sua combinação etc.

 

Prosódia: estudando as características que extrapolam os fonemas propriamente ditos, optando pela consideração do acento, do tom, da entoação etc.

 

Já para Battisti, Othero e Flores (2022, p. 75), a fonologia divide-se em segmental, prosódica e lexical.

 

_______________

OBSERVAÇÃO:

 

Estudar fonética e fonologia por meio de um livro de gramática certamente não há de ser tarefa fácil. Para se ter uma ideia, a imprecisão terminológica chega a ser tão problemática que é capaz de o estudante sair da leitura sabendo menos do que sabia antes de iniciar o estudo.

 

Muitos gramáticos confundem fonema com letra, vogal com semivogal, entre outras coisas do tipo. Poucas são as obras que bebem verdadeiramente das teorias fonéticas e fonológicas e disponibilizam ao público um material atualizado e adequado aos conceitos dessas duas ciências. Um grande exemplo de imprecisão terminológica é a Gramática Metódica da Língua Portuguesa (ALMEIDA, 2015), obra que consideramos como uma das melhores para o estudo da norma culta, mas que, entretanto, possui uma desatualizada (e por vezes problemática) parte sobre fonética (seus comentários sobre a semivogal dão uma mostra disso). Mas Almeida não é o único. Gramáticos como Cegalla (2008) e Bechara (2015) também trazem alguns equívocos, como a confusão entre letra e fonema.

 

 

_______________

Professor Weslley Barbosa