08/09/2022

ATOS DE FALA


A linguagem humana só se efetiva quando, no mínimo, dois falantes decidem se comunicar, assumindo um determinado sistema de formas e regras. Esse sistema de formas e regras é chamado de língua e já há um artigo específico a seu respeito neste site (consulte aqui).

 

Por sua característica essencialmente interativa, a linguagem se impõe como uma atividade que extrapola o indivíduo e chega ao nível das relações sociais, da convivência e troca de experiências em grupo.

 

Vale a pena citar um trecho do linguista Francisco da Silva Borba para uma melhor compreensão dessa questão. Tratando do “mecanismo da comunicação”, Borba afirma:

 

Comunicar, portanto, é transmitir uma informação. Para isso se constroem mensagens, cujos elementos são tirados de um sistema ou código. [...] É necessário, para que a comunicação se efetue, que haja, de um lado, quem formule a mensagem para enviar a notícia e, de outro, quem a receba e a decifre, quer dizer, de um lado está o emissor (E) e de outro, o receptor (R) (BORBA, 2008, p. 22 – 23 – grifos do autor).

 

Fica claro que o ato comunicativo envolve uma série de fatores, como o emissor (quem fala ou escreve), o receptor (quem ouve ou lê), a mensagem (ou o que se diz), o código (ou o modo como se organiza a mensagem) etc. Acrescento, ainda, o contexto sociodiscursivo como elemento determinante desse processo, pois é inserido num determinado contexto, interagindo com certas pessoas, a partir de certa visão de mundo, em certa cultura, num determinado momento histórico, que o indivíduo pode, efetivamente, fazer suas escolhas discursivas.

        

Sendo determinado pelo contexto, pelos indivíduos e pelos objetivos em jogo no momento da comunicação, o ato comunicativo é envolto em intencionalidades e estabelecido a partir de um acordo de intercompreensão firmado quase que inconscientemente entre os interlocutores.

 

Segundo José Carlos de Azeredo:

 

As pessoas dirigem a palavra umas às outras movidas por algum propósito: pedir ou dar uma informação, fazer um convite, dirigir uma saudação, prometer algo, dar uma ordem, agradecer um favor, expressar um censura ou um elogio, desculpar-se, iniciar, continuar ou encerrar uma conversa etc. Este comportamento verbal, com que expressamos alguma intenção comunicativa, é o que se chama um ato de fala, e a menor unidade linguística que o realiza discursivamente constitui uma frase (AZEREDO, 2013, p. 71 – grifos do autor).

 

Comungando com Azeredo (2013), chamaremos o ato comunicativo inserido num determinado contexto e sustentado em certas intencionalidades de ato de fala. Basicamente todo enunciado dirigido de um falante a um ouvinte se constitui num ato de fala.

 

Costuma-se dividir os atos de fala em cinco categorias, conforme os objetivos que se queiram alcançar:

 

Atos assertivos/representativos: são os atos que trazem informações que podem ou não ser comprovadas. Assim, as afirmações podem ser julgadas como verdadeiras ou falsas. Ex: É proibido estacionar neste local.

 

Atos diretivos: são atos que carregam consigo um pedido, uma súplica ou uma interrogação. São indicações a respeito da forma como se espera que o interlocutor proceda. Ex: Você poderia me passar o açúcar?; Adoraria que você viesse amanhã!

 

Atos compromissivos: há o compromisso de realizar uma ação futura, em proceder de determinada forma. Ex: Não se preocupe que eu cuido desse assunto!

 

Atos expressivos: são os atos que expressam os sentimentos do falante, principalmente em termos de desculpas, felicitações etc. Ex: perdoe-me!

 

Atos declarativos: com a efetivação do ato, ou seja, a declaração, instaura-se uma situação nova, modificando-se uma situação anterior. Ex: batismo, a declaração de uma sentença num julgamento etc.

 

_______________

Professor Weslley Barbosa