15/09/2022

A SÍLABA


A sílaba é o seguimento sonoro emitido numa só corrente de ar, ou seja, “num só impulso expiratório” (BECHARA, 2015). Isso quer dizer que sempre que emitirmos um som resultante de um só esforço expiratório (excetuando-se sons como o soluço, a tosse etc.), estaremos produzindo uma sílaba.

 

Utilizemos como exemplo as palavras céu [‘sƐw] e pipa [‘pi pa]. Ao pronunciar céu apenas uma corrente de ar é utilizada, ou seja, apenas um impulso é emitido (grosseiramente falando, podemos dizer que soltamos ar dos pulmões apenas uma vez). Já em pipa temos duas correntes de ar, ou seja, dois impulsos realizados. Portanto, a palavra céu possui uma sílaba e a palavra pipa possui duas sílabas.

 

Uma definição interessante, ainda que imprecisa do ponto de vista articulatório é encontrada em Crystal (2000, p. 238): “unidade de pronúncia maior do que um som e menor do que uma palavra”. Grosso modo, é verdadeiramente isso que uma sílaba representa. Ela é maior que um fonema (embora por vezes ela seja formada apenas por um fonema, como em há [‘a] e é [‘Ɛ]), mas também é menor do que uma palavra, ficando mais visível a diferença quanto mais sílabas tiver a palavra.

 

Quanto à estrutura de uma sílaba, é importante dizer que na língua portuguesa a vogal é o seu elemento essencial, indispensável. Se, como vimos acima, podemos ter sílabas só com uma vogal (ou mais de uma, como em ai [‘ay]), não ocorre o mesmo com as consoantes, visto que elas nunca ocorrem sozinhas em nossa língua: “não há sílaba sem vogal em português” (SIMÕES, 2006, p. 22).

 

Divide-se a sílaba em três partes: aclive, base e declive. Veja a imagem:

 


 

Dependendo da forma como são preenchidas as partes da sílaba, ela pode ser:

 

Simples: constituída apenas da base, ou seja, só possui um fonema, necessariamente vocálico: oh [‘ɔ], ih [‘i].

 

Composta: constituída por mais de um fonema, ou seja, além da vogal, pode possuir consoantes ou semivogais, estejam elas no aclive ou no declive. Os padrões silábicos compostos da língua portuguesa são:

 

vogal + consoante (ir)

consoante + vogal ()

consoante + vogal + consoante (por)

consoante + vogal + semivogal (lei)

consoante + consoante + vogal + consoante (crer)

consoante + semivogal + vogal + semivogal (qual)

consoante + semivogal + vogal + semivogal + consoante (quais)

 

Veja, na imagem, como fica o preenchimento das partes de uma sílaba simples e de uma sílaba composta:

 


 

A sílaba composta é classificada como aberta quando termina na base (dó [‘d ɔ]), ou seja, termina numa vogal, e como fechada quando termina no declive (dor [‘doh] ou mãe [‘mãy]), ou seja, termina numa consoante ou numa semivogal.

 

Com relação ao número de sílabas, classificação muito mais interessante do ponto de vista da gramática do que da fonética e da fonologia, as palavras podem ser:

 

Monossílabas (apenas uma sílaba): , , rei, , , não, dor, ser

Dissílabas (duas sílabas): para, chuva, eira, ouro, lua, país

Trissílabas (três sílabas): pedido, salada, Europa, parcial, lâmpada

Polissílabas (mais de três sílabas): estudante, verdadeiro, horizonte, azulejo

 

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OBSERVAÇÕES:

 

1 - O gramático Evanildo Bechara (2015) considera a sílaba terminada com semivogal como sílaba aberta (ou livre), posição da qual discordamos. Todavia, faz interessante consideração a respeito do fato de as sílabas com vogal nasal, mesmo não tendo consoantes no declive, serem fechadas (ou travadas). Segundo ele, a nasalidade é índice de travamento da sílaba.

 

2 – Azeredo (2013, p. 379) comete grave erro ao afirmar que a sílaba pode ter em sua base uma vogal ou um ditongo (conforme veremos em artigo específico sobre o ditongo, ele é a união entre uma vogal e uma semivogal, e vice-versa). Tal afirmação não se confirma, visto que a vogal é o único fonema que pode ocupar a base silábica. Ora, se a semivogal já é realizada, do ponto de vista fonético, como uma vogal, qual seria a justificativa para a sua classificação em separado caso ela ocupasse, na sílaba, o mesmo lugar que a vogal? Essa é uma opinião que simplesmente não faz sentido!

 

Assista ao meu vídeo, no YouTube, sobre a estrutura da sílaba no português:


 

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Professor Weslley Barbosa