25/04/2022

GRAMÁTICA: conceito, tipos e divisões


CONCEITO DE GRAMÁTICA

 

A gramática¹ é o estudo dos fatos linguísticos com o objetivo de sistematizar e descrever o seu funcionamento. Trata-se, portanto, de um dos mais importantes conhecimentos aos quais a humanidade tem se dedicado, visto que lida especificamente com os sistemas linguísticos que possibilitam nossa comunicação.

 

Etimologicamente, o termo “gramática” tem origem no grego grámma, que significa “letra” (CIPRO NETO; INFANTE, 2008; HAUY, 2014), relacionando-se às técnicas ensino de leitura e escrita - grammatiké. Posteriormente, assumiu o significado que possui hoje, de estudo do sistema linguístico de todas as línguas naturais.

 

Pelo que ficou dito até aqui, percebe-se que a gramática constitui um saber com forte vocação científica, embora seja importante destacar que nem tudo o que resulta da sistematização gramatical é científico. É científica, por exemplo, a descrição das ocorrências linguísticas, a análise de um corpus, o estudo das regras que subjazem a construção das sentenças ou a flexão das palavras... Não é científico, mas sim didático/pedagógico (HAUY, 2014; ROCHA LIMA, 2018; BECHARA, 2019), o estabelecimento de uma norma padrão a ser ensinada nas escolas e seguida em situações formais de utilização linguística, tarefa que compete à gramática normativa. Carlos Henrique da Rocha Lima trata de tal especificidade:

 

É uma disciplina, didática por excelência, que tem por finalidade codificar o “uso idiomático”, dele induzindo, por classificação e sistematização, as normas que, em determinada época, representam o ideal da expressão correta (ROCHA LIMA, 2018, p. 38).

  

Desse modo, entendida do ponto de vista escolar (e, por conseguinte, sendo assim adotada em exames e concursos públicos) a gramática é o estudo da estrutura de uma língua com vistas a determinar a melhor forma de comunicar-se, ou seja, com o objetivo de estabelecer um padrão.

 

TIPOS DE GRAMÁTICA

 

Porém, o estabelecimento de uma norma padrão não é o único objetivo que está ligado à sistematização gramatical. Hauy explica isso de forma muito clara:

 

Dependendo do enfoque adotado, dos métodos de estudo e de exposição desses fatos [os fatos da língua], e, principalmente, do objetivo a que se propõe o autor, ela [a gramática] será descritiva (ou sincrônica), histórica (ou diacrônica), comparativa, normativa etc. (HAUY, 2014, p. 67).

 

Logo, não existe apenas um tipo de gramática (CRYSTAL, 2000; BECHARA, 2019). Há, na verdade, vários, cujos principais veremos abaixo²:

 

Gramática comparativa: é o estudo comparativo de várias línguas (“ou estados de uma língua” – CRYSTAL, 2000, p. 129). Parece haver consenso entre os gramáticos no entendimento de que é a aplicação de métodos comparativos ao estudo de línguas pertencentes a um mesmo tronco ou família.

 

Gramática descritiva: estuda e descreve uma língua da forma como ela se apresenta (“num dado momento” – HAUY, 2014, p. 67), a partir de corpus oral ou escrito, documentando as realizações observadas e buscando justificá-las (CRYSTAL, 2000), sem, contudo, prescrever qual(is) dessa(s) forma(s) são mais corretas ou mesmo qual delas deve servir de modelo.

 

Gramática normativa: é a abordagem gramatical que busca estabelecer um modelo de língua a ser aprendido e preservado. Esse modelo costuma ser descrito como “norma padrão”. A gramática normativa estabelece as regras que devem ser seguidas por aqueles que precisam utilizar essa norma padrão, excluindo de suas considerações tudo o que foge desse modelo. “É uma disciplina com finalidade pedagógica” (HAUY, 2014, p. 68).

 

Gramática histórica³: como o próprio nome já diz, estuda a evolução de uma língua (MACEDO, 1979) ao longo do tempo, ou seja, a partir de um enfoque diacrônico. De acordo com Coutinho (2011, p. 13) “é a ciência que estuda os fatos de uma língua, no seu desenvolvimento sucessivo, desde a origem até a época atual”.

 

Gramática comparativa: é o estudo das relações entre as línguas. Geralmente estuda-se determinada família ou tronco linguístico (CAMARA JR., 2011; BECHARA, 2019), com vistas a determinar as semelhanças e verificar onde e como ocorrem as diferenças, principalmente a partir de uma língua mais remota, que o originou (HAUY, 2014). Ex: tronco indo-europeu.

 

Neste site, sempre que se tratar de temas relativos à gramática, adotarei a abordagem normativa da gramática, que é a que estuda as regras inerentes à norma-padrão da língua portuguesa. Porém, reconheço a importância da vasta tradição de estudos linguísticos que se desenvolveram principalmente a partir do início do século XX, com a publicação do Curso de linguística geral, de Ferdinand de Saussure (2012). É por isso que, ao lado dos vários temas referentes à gramática normativa, o leitor encontrará nesta página uma extensa lista de artigos, destinados aos mais importantes conceitos da ciência linguística, o que dá ao estudante uma visão ampla do pensamento em torno da linguagem, da comunicação, do sistema linguístico, da norma e da variação.

 

Não me afasto, porém, da opinião de que o estudante deve conhecer e, na medida do possível, dominar o máximo de regras da variedade padrão da língua portuguesa. O domínio da expressão padrão é essencial ao estudante e ao bom profissional, aquele que se pretende apto a comunicar-se com clareza, correção e elegância. Como bem adverte o mestre Mattoso Câmara:

 

Cada um de nós tem de saber usar uma boa linguagem para desempenhar o seu papel de indivíduo humano e de membro de uma sociedade humana. Não se pode admitir que um instrumento tão essencial seja mal conhecido e mal manejado (CAMARA JR., 2012, p. 10).

 

DIVISÕES DA GRAMÁTICA

 

Geralmente, as gramáticas normativas vêm assim divididas:

 

Fonética e fonologia: o estudo das unidades sonoras da língua.

 

Morfologia: o estudo das unidades formais da língua, ou seja, as palavras e suas unidades distintivas (os morfemas).

 

Sintaxe: o estudo das funções dos elementos linguísticos dentro do discurso, ou seja, em suas relações uns com os outros.

 

Semântica e estilística: estudo da significação e usos específicos dos elementos linguísticos.

 

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NOTAS:

 

1 – Na verdade, existem três acepções para a palavra “gramática”: i) conjunto de regras internalizadas que constituem um “conhecimento intuitivo e prático da língua”; ii) “descrição formal desse conhecimento, mediante uma terminologia especializada” (AZEREDO, 2013, p. 29); iii) livros que contém essa descrição formal (ex: a gramática de Cegalla). Neste site, quando for utilizado o termo gramática, é principalmente no segundo sentido.

2 – Azeredo (2013) ainda apresenta: gramática explícita, gramática geral ou universal, gramática latente e gramática teórica.

3 – Bechara (2019, p. 58) atribui ao que se considera comumente “gramática histórica” o designativo de “história interna da língua”. Todavia, prefiro o termo tradicional.

 

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Professor Weslley Barbosa