CONCEITO DE GRAMÁTICA
A gramática¹ é o estudo dos fatos
linguísticos com o objetivo de sistematizar e descrever o seu funcionamento. Trata-se, portanto, de um dos mais
importantes conhecimentos aos quais a humanidade tem se dedicado, visto que
lida especificamente com os sistemas linguísticos que possibilitam nossa
comunicação.
Etimologicamente, o termo “gramática” tem
origem no grego grámma, que significa “letra” (CIPRO NETO; INFANTE,
2008; HAUY, 2014), relacionando-se às técnicas ensino de leitura e escrita - grammatiké.
Posteriormente, assumiu o significado que possui hoje, de estudo do sistema
linguístico de todas as línguas naturais.
Pelo que ficou dito até aqui, percebe-se que
a gramática constitui um saber com forte vocação científica, embora seja
importante destacar que nem tudo o que resulta da sistematização gramatical é
científico. É científica, por exemplo, a descrição das ocorrências
linguísticas, a análise de um corpus, o estudo das regras que subjazem a construção
das sentenças ou a flexão das palavras... Não é científico, mas sim didático/pedagógico
(HAUY, 2014; ROCHA LIMA, 2018; BECHARA, 2019), o estabelecimento de uma norma
padrão a ser ensinada nas escolas e seguida em situações formais de utilização
linguística, tarefa que compete à gramática normativa. Carlos Henrique da Rocha
Lima trata de tal especificidade:
É uma disciplina, didática por excelência,
que tem por finalidade codificar o “uso idiomático”, dele induzindo, por
classificação e sistematização, as normas que, em determinada época,
representam o ideal da expressão correta (ROCHA LIMA, 2018, p. 38).
Desse modo, entendida do ponto de vista escolar (e, por conseguinte, sendo assim adotada em
exames e concursos públicos) a gramática
é o estudo da estrutura de uma
língua com vistas a determinar a melhor forma de comunicar-se, ou
seja, com o objetivo de estabelecer um padrão.
TIPOS DE GRAMÁTICA
Porém, o estabelecimento de uma norma padrão
não é o único objetivo que está ligado à sistematização gramatical. Hauy explica
isso de forma muito clara:
Dependendo do enfoque adotado, dos métodos de
estudo e de exposição desses fatos [os fatos da língua], e, principalmente, do
objetivo a que se propõe o autor, ela [a gramática] será descritiva (ou
sincrônica), histórica (ou diacrônica), comparativa, normativa etc. (HAUY,
2014, p. 67).
Logo, não existe apenas um tipo de gramática
(CRYSTAL, 2000; BECHARA, 2019). Há, na verdade, vários, cujos principais
veremos abaixo²:
Gramática comparativa: é o estudo comparativo de várias línguas (“ou
estados de uma língua” – CRYSTAL, 2000, p. 129). Parece haver consenso entre os
gramáticos no entendimento de que é a aplicação de métodos comparativos ao
estudo de línguas pertencentes a um mesmo tronco ou família.
Gramática descritiva: estuda e descreve uma língua da forma como
ela se apresenta (“num dado momento” – HAUY, 2014, p. 67), a partir de corpus
oral ou escrito, documentando as realizações observadas e buscando justificá-las
(CRYSTAL, 2000), sem, contudo, prescrever qual(is) dessa(s) forma(s) são mais
corretas ou mesmo qual delas deve servir de modelo.
Gramática normativa: é a abordagem gramatical que busca
estabelecer um modelo de língua a ser aprendido e preservado. Esse modelo
costuma ser descrito como “norma padrão”. A gramática normativa estabelece as
regras que devem ser seguidas por aqueles que precisam utilizar essa norma
padrão, excluindo de suas considerações tudo o que foge desse modelo. “É uma
disciplina com finalidade pedagógica” (HAUY, 2014, p. 68).
Gramática histórica³: como o próprio nome já diz, estuda a
evolução de uma língua (MACEDO, 1979) ao longo do tempo, ou seja, a partir de
um enfoque diacrônico. De acordo com Coutinho (2011, p. 13) “é a ciência que
estuda os fatos de uma língua, no seu desenvolvimento sucessivo, desde a origem
até a época atual”.
Gramática comparativa: é o estudo das relações entre as línguas.
Geralmente estuda-se determinada família ou tronco linguístico (CAMARA JR.,
2011; BECHARA, 2019), com vistas a determinar as semelhanças e verificar onde e
como ocorrem as diferenças, principalmente a partir de uma língua mais remota,
que o originou (HAUY, 2014). Ex: tronco indo-europeu.
Neste site, sempre que se tratar de temas
relativos à gramática, adotarei a abordagem normativa da gramática,
que é a que estuda as regras inerentes à norma-padrão da língua portuguesa. Porém, reconheço a importância da vasta
tradição de estudos linguísticos que se desenvolveram principalmente a partir do
início do século XX, com a publicação do Curso
de linguística geral, de Ferdinand de Saussure (2012). É por isso que, ao
lado dos vários temas referentes à gramática normativa, o leitor encontrará
nesta página uma extensa lista de artigos, destinados aos mais importantes
conceitos da ciência linguística, o que dá ao estudante uma visão ampla do pensamento
em torno da linguagem, da comunicação, do sistema linguístico, da norma e da
variação.
Não me afasto, porém, da opinião de que o
estudante deve conhecer e, na medida do possível, dominar o máximo de regras da
variedade padrão da língua portuguesa. O domínio da expressão padrão é
essencial ao estudante e ao bom profissional, aquele que se pretende apto a
comunicar-se com clareza, correção e elegância. Como bem adverte o mestre
Mattoso Câmara:
Cada um de nós tem de saber usar uma boa
linguagem para desempenhar o seu papel de indivíduo humano e de membro de uma
sociedade humana. Não se pode admitir que um instrumento tão essencial seja mal
conhecido e mal manejado (CAMARA JR., 2012, p. 10).
DIVISÕES DA GRAMÁTICA
Geralmente, as gramáticas normativas vêm
assim divididas:
Fonética e fonologia: o estudo das unidades sonoras da língua.
Morfologia: o estudo das unidades formais da língua, ou
seja, as palavras e suas unidades distintivas (os morfemas).
Sintaxe: o estudo das funções dos elementos
linguísticos dentro do discurso, ou seja, em suas relações uns com os outros.
Semântica e estilística: estudo da significação e usos específicos
dos elementos linguísticos.
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NOTAS:
1 – Na verdade, existem três acepções para a
palavra “gramática”: i) conjunto de regras internalizadas que constituem um “conhecimento
intuitivo e prático da língua”; ii) “descrição formal desse conhecimento,
mediante uma terminologia especializada” (AZEREDO, 2013, p. 29); iii) livros
que contém essa descrição formal (ex: a gramática de Cegalla). Neste
site, quando for utilizado o termo gramática, é principalmente no segundo
sentido.
2 – Azeredo (2013) ainda apresenta: gramática
explícita, gramática geral ou universal, gramática latente e gramática teórica.
3 – Bechara (2019, p. 58) atribui ao que se
considera comumente “gramática histórica” o designativo de “história interna da
língua”. Todavia, prefiro o termo tradicional.
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Professor
Weslley Barbosa