CONCEITUANDO A PREPOSIÇÃO
Preposições são palavras invariáveis que têm a
função primordial de ligar dois termos dentro do discurso, ou seja, elas ligam
os complementos às palavras completadas. Ao termo que pede o complemento chamamos de antecedente e ao que o complementa
chamamos de consequente (MACAMBIRA,
2001; ALMEIDA, 2009). Veja no exemplo:
Antecedente |
Preposição |
Consequente |
Gosto |
de |
você |
Pede complemento (gosta de quê?) |
Faz a ligação entre Os termos |
Complementa o termo antecedente |
Outros
exemplos de preposições são: com; para; sobre; a; etc. (ver mais
abaixo as preposições essenciais).
O fato de que as preposições têm função meramente
conectiva enfatiza a sua natureza como formas dependentes, isto é, que não
podem aparecer sozinhas no discurso (MONTEIRO, 2002; CÂMARA JR., 2005; BECHARA,
2015).
Domingos
Paschoal Cegalla traz relevante observação em sua gramática, na medida em que
afirma que a preposição:
Liga
um termo dependente a um termo principal ou subordinante, estabelecendo entre
ambos relações de posse, modo, lugar, causa, fim, etc. (CEGALLA, 2008, p. 268).
Tal definição (que
também é adotada por CASTILHO, 2010, p. 583 – 584) auxilia numa delimitação semântica da preposição, na medida em
que a classifica como termo conectivo e que estabelece uma relação de sentido. Assim,
a preposição até poderia estabelecer
uma relação de tempo (ficarei até amanhã)
ou de lugar (daqui até ali), a
preposição sob poderia estabelecer
uma relação de modo (está sob custódia)
e o de poderia estabelecer uma
relação de posse (livro de João) ou
de procedência (ganhei isso de você),
entre outras.
PREPOSIÇÕES ESSENCIAIS
São as palavras que sempre são preposições. Sua lista é
fechada, possuindo apenas 17 elementos:
a |
com |
em |
por (per) |
ante |
contra |
entre |
sem |
até |
de |
para |
sob |
após |
desde |
perante |
sobre |
trás |
PREPOSIÇÕES ACIDENTAIS
São as palavras de outras classes que eventualmente
são empregadas como preposições. São elas:
conforme |
fora |
salvante salvo segundo tirante |
consoante |
afora |
|
durante |
menos |
|
exceto |
mediante |
LOCUÇÕES PREPOSITIVAS
São grupos de palavras que têm comportamento na
frase e função iguais às das preposições, ou seja, são invariáveis e servem para ligar um
complemento a determinada palavra. Uma característica das locuções prepositivas
é que elas sempre são concluídas por preposições (de, a, em, com), tendo
geralmente um advérbio ou
locução adverbial em seu início. Eis uma lista com algumas das locuções
prepositivas: abaixo de; acima de; além de; a fim de; antes de; atrás de; aquém de; dentro em; dentro de; depois de; fora de; ao modo de; à maneira de;
junto de; junto a; devido a; a par de; em face de; de fronte de,
junto com; para com; sob pena de;
etc.
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OBSERVAÇÕES:
1 – As preposições, por serem conectivos, têm natureza
semelhante à das conjunções, sendo
muitas vezes com elas confundidas pelos estudantes.
Na tentativa de estabelecer distinções
entre as duas classes, não é incomum que os gramáticos, até mesmo os mais
gabaritados, se equivoquem na conceituação. Neste sentido, assim nos diz Napoleão
Mendes de Almeida:
Tanto a preposição quanto a conjunção
são conectivos, isto é, são classes
que desempenham função de ligação; ambas essas classes ligam, mas entre elas há
esta diferença: a preposição liga palavras
(substantivo a substantivo, substantivo a adjetivo, substantivo a verbo,
adjetivo a verbo etc.), ao passo que a conjunção liga orações (ALMEIDA, 2009, p. 334 – grifos do autor).
Ora, qual não será a surpresa do
estudante ao se deparar com uma frase como eu
e você, onde a conjunção e liga
duas palavras, o que foge, evidentemente, da conceituação de Almeida?
2 – Parece que o conceito mais adequado e que mais
profundamente diferencia as duas classes é o que apresenta a preposição como palavra invariável que liga dois termos,
estabelecendo sempre uma relação de dependência entre um e outro. Isso
porque a conjunção, conforme se pode observar em artigo específico (consulte aqui), liga orações por coordenação, subordinação ou correlação, ou palavras de funções semelhantes dentro de uma mesma
oração (CUNHA; CINTRA, 2008, p. 593). Segundo Hauy (2014), a conjunção
estabelece a relação “entre categorias iguais, apenas quando coordenativa, e
somente entre verbos [ou orações], quando subordinativa” (p. 763).
Resumindo, pode-se dizer que a conjunção
ou liga orações, como afirmava Almeida (2009) ou, quando liga palavras, o faz
somente entre palavras de natureza semelhante e estabelecendo uma relação de
coordenação entre elas. É o que ocorre no caso do exemplo dado na observação 1,
em que eu e você, como dois pronomes
sem qualquer relação de dependência, podem figurar, ambos, como núcleos de um
sujeito, por exemplo (são coordenados entre si).
Já a preposição sempre introduz um termo
que está subordinado a outro. No primeiro exemplo dado, gosto de você, a expressão de
você é mero complemento do verbo, e a própria presença da conjunção já
indica sua função completiva. Para Cunha e Cintra, as preposições “relacionam
dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente)
é explicado ou completado pelo segundo (consequente)” (2008, p. 569).
3 – É importante perceber que modernamente não se tem
adotado mais a noção de que as preposições são “vazias de sentido”. Elas
verdadeiramente não têm sentido se usadas sozinhas numa situação de comunicação
(ninguém entra numa sala e diz para alguém “ante” esperando ser compreendido),
mas quando dentro de uma sentença, elas possuem sim significação.
Para Infante e Cipro Neto:
Em alguns casos (particularmente nas
locuções adverbiais), as preposições não apenas conectam termos da oração, mas
também indicam noções fundamentais à compreensão da frase. Observe: saí com pressa; pus sob a mesa […] (2008, p. 314 – grifos dos autores).
Já Ataliba de Castilho vai além,
estabelecendo a significação como algo extensível a todas as conjunções:
Frequentemente os gramáticos afirmam que
as preposições são palavras “vazias de sentido”, certamente dada a dificuldade
de identificar o sentido nessa classe. Nesta gramática, vamos admitir que casa
preposição tem um sentido de base, de localização espacial ou temporal. Nem
sempre temos uma consciência clara disso, mas nem por isso vamos aceitar a
“explicação” do “sentido vazio”. Palavras sem sentido seriam ruídos, signos
dotados só de significante – enfim, uma aberração (CASTILHO, 2010, p. 583 –
grifos do autor).
Aqui no site Professor Weslley Barbosa adotarei posição semelhante à de
Castilho, defendendo que todas as preposições têm sim o seu sentido, ainda que
apenas tenuemente percebido.
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Professor
Weslley Barbosa