30/11/2020

GÊNEROS TEXTUAIS: conceito e características


CONCEITO DE GÊNEROS TEXTUAIS

 

 

Gêneros textuais são as diferentes maneiras a partir das quais as atividades linguísticas são organizadas. Os gêneros são inúmeros (e pode-se dizer que, muito provavelmente, sejam infinitos, em possibilidades de construção) e constituem um inventário aberto, podendo a qualquer momento surgir um novo gênero ou desaparecer algum outro, dependendo das novas necessidades oriundas das mudanças sociais e tecnológicas.

 

São exemplos de gêneros textuais:

 

Artigo de opinião

Aula

Bula de remédio

Carta pessoal

Comentários online

Diário

Edital

Guia de viagem

Lista de compras

Memorando

Ofício

Piada

Poema

Resenha

Romance

Sermão

Tabela de jogos

Vlog

 

INDISSOCIABILIDADE ENTRE TEXTO E GÊNERO

 

Todo texto surge dentro de um contexto histórico e com o objetivo de suprir determinada necessidade comunicativa: surge repleto de intencionalidades e visando suscitar determinada reação ou resposta de, ao menos, um interlocutor. Porém um texto não nasce isolado, como um acontecimento único e inédito.

 

Sempre, em nossa comunicação cotidiana, em qualquer esfera, em qualquer contexto, independentemente de quem seja nosso interlocutor e os objetivos que pretendamos alcançar, utilizamos modelos herdados da tradição, compartilhados há tempos pelos demais falantes de nossa comunidade, de nossa cultura. Mesmo quando os novos tempos exigem a criação de novos modelos para atender a novas necessidades, é possível perceber que, na verdade, o que aconteceu foi uma adaptação de modelos anteriormente instituídos.

 

Sobre a herança de tais modelos, que ficam “à disposição” dos falantes, vale destacar o trecho a seguir, de Jean-Paul Bronckart:

 

Na escala sócio-histórica, os textos são produtos da atividade de linguagem em funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos, interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características relativamente estáveis (justificando-se que sejam chamadas de gêneros de texto) e que ficam disponíveis no intertexto como modelos indexados, para os contemporâneos e para as gerações posteriores (BRONCKART, 2012, p. 137 – grifos do autor).

 

A esses modelos dos quais se valem os falantes para comunicarem-se no dia a dia damos o nome de gêneros textuais. Os gêneros são a materialização de uma intenção comunicativa, trazendo em si diferentes formas de organização textual. Por tal motivo, Marcuschi (2005, p. 22 - 23) afirma que eles representam

 

os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica (grifos do autor).

 

É importante ter em mente que, sendo diferentes as situações comunicativas, também os gêneros diferentes serão. Isso porque os gêneros textuais se adaptam à situação de comunicação, aos objetivos que queremos alcançar com o nosso texto, ao público para o qual nos dirigimos, ao local em que produzimos o texto etc.

 

GÊNEROS E AÇÃO SOCIAL

 

Costuma-se dizer, também, que os gêneros são “formas de ação social” (MARCUSCHI, 2005, p. 19), porque a partir deles nos colocamos no mundo, expressamos nossas ideias, intervimos na sociedade, interpretamos e damos sentido às coisas e aos acontecimentos, informamos e externamos nossa opinião.

 

Sendo formas de agir no âmbito social e meios de interação, os gêneros não são determinados por um indivíduo em particular, eles nascem como uma produção social, conjunta, instituída e aceita por um determinado grupo de pessoas.

 

MUTABILIDADE DOS GÊNEROS TEXTUAIS

 

Como as pessoas e a sociedade mudam constantemente, os gêneros também costumam mudar, evoluir e, até mesmo, desaparecer, caso sua funcionalidade não faça mais sentido. Além disso, constantemente surgem novos gêneros, para atender a novas necessidades sociais. É assim que se costuma perceber os gêneros como entidades fluidas e maleáveis, adaptáveis e modificáveis de acordo com os objetivos e necessidades da sociedade.

 

De tal forma os gêneros textuais são essenciais à comunicação, que o linguista Luiz Antônio Marcuschi chega mesmo a negar a possibilidade de haver interação verbal sem a utilização de um gênero:

 

Partimos do pressuposto básico de que é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, partimos da ideia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual (MARCUSCHI, 2005, p. 22).

 

Ao contrário dos tipos textuais, que são pouquíssimos e facilmente definíveis (narração, argumentação, exposição, descrição, injunção), os gêneros textuais são inúmeros e de difícil definição formal, posto que maleáveis, como já foi dito. Vão de um simples bilhete a uma reportagem numa revista, de um e-mail pessoal a uma tese de doutorado, de uma aula expositiva a um sermão. Portanto, podem ser orais e escritos, textuais ou iconográficos, ou ainda unir várias dessas características.

 

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OBSERVAÇÃO: falar que os gêneros são maleáveis e mutáveis é uma forma de se referir aos gêneros em geral, enquanto inventário diversificado que está à disposição dos falantes para ser utilizado em cada situação. Porém, nem todos os gêneros são maleáveis! Há gêneros de estrutura extremamente rígida e uniforme, não cabendo aos usuários inovar nem adaptar sua estrutura. É o caso do ofício, do memorando, do projeto de lei, entre outros. Tais gêneros, entretanto, constituem exceções dentro da vasta gama de modelos maleáveis existente.

 

DOMÍNIOS DISCURSIVOS

 

Os falantes de uma língua são, antes de tudo, seres sociais, convivendo e interagindo em diferentes meios, cada qual com suas relações próprias, seus atores, seus objetivos. A estes diferentes meios de interação dá-se o nome de domínios discursivos. São, de acordo com Marcuschi (2008, p. 155) “instâncias discursivas”, que não abrangem “um gênero em particular, mas dá origem a vários deles”. São exemplos de domínios discursivos, segundo Marcuschi (2008): “discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.”. Pode-se falar, no entanto, em muitos outros domínios, como o do discurso de militância, o discurso literário, o discurso educacional e, mais modernamente, o discurso das redes sociais.

 

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Professor Weslley Barbosa