CONCEITO DE GÊNEROS TEXTUAIS
Gêneros textuais são as diferentes maneiras a
partir das quais as atividades linguísticas são organizadas. Os gêneros
são inúmeros (e pode-se dizer que, muito provavelmente, sejam infinitos, em
possibilidades de construção) e constituem um inventário aberto, podendo a
qualquer momento surgir um novo gênero ou desaparecer algum outro, dependendo
das novas necessidades oriundas das mudanças sociais e tecnológicas.
São exemplos
de gêneros textuais:
Artigo de
opinião |
Aula |
Bula de
remédio |
Carta
pessoal |
Comentários online |
Diário |
Edital |
Guia de
viagem |
Lista de
compras |
Memorando |
Ofício |
Piada |
Poema |
Resenha |
Romance |
Sermão |
Tabela de
jogos |
Vlog |
INDISSOCIABILIDADE ENTRE TEXTO E GÊNERO
Todo texto
surge dentro de um contexto histórico e com o objetivo de suprir determinada
necessidade comunicativa: surge repleto de intencionalidades e visando suscitar
determinada reação ou resposta de, ao menos, um interlocutor. Porém um texto não nasce isolado, como um
acontecimento único e inédito.
Sempre, em
nossa comunicação cotidiana, em qualquer esfera, em qualquer contexto,
independentemente de quem seja nosso interlocutor e os objetivos que pretendamos
alcançar, utilizamos modelos herdados da tradição, compartilhados há tempos
pelos demais falantes de nossa comunidade, de nossa cultura. Mesmo quando os
novos tempos exigem a criação de novos modelos para atender a novas
necessidades, é possível perceber que, na verdade, o que aconteceu foi uma
adaptação de modelos anteriormente instituídos.
Sobre a
herança de tais modelos, que ficam “à disposição” dos falantes, vale destacar o
trecho a seguir, de Jean-Paul Bronckart:
Na
escala sócio-histórica, os textos são produtos da atividade de linguagem em
funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos,
interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies
de textos, que apresentam características relativamente estáveis
(justificando-se que sejam chamadas de gêneros
de texto) e que ficam disponíveis no intertexto
como modelos indexados, para os
contemporâneos e para as gerações posteriores (BRONCKART, 2012, p. 137 – grifos
do autor).
A esses modelos dos quais se valem os falantes para
comunicarem-se no dia a dia damos o nome de gêneros textuais. Os gêneros
são a materialização de uma intenção comunicativa, trazendo em si diferentes
formas de organização textual. Por tal motivo, Marcuschi (2005, p. 22 - 23)
afirma que eles representam
os
textos materializados que encontramos
em nossa vida diária e que apresentam características
sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais,
estilo e composição característica (grifos do autor).
É importante
ter em mente que, sendo diferentes as
situações comunicativas, também os gêneros diferentes serão. Isso porque os
gêneros textuais se adaptam à situação de comunicação, aos objetivos que queremos alcançar com o nosso texto, ao
público para o qual nos dirigimos, ao local em que produzimos o texto etc.
GÊNEROS E AÇÃO SOCIAL
Costuma-se
dizer, também, que os gêneros são
“formas de ação social” (MARCUSCHI, 2005, p. 19), porque a partir deles nos
colocamos no mundo, expressamos nossas ideias, intervimos na sociedade,
interpretamos e damos sentido às coisas e aos acontecimentos, informamos e
externamos nossa opinião.
Sendo formas
de agir no âmbito social e meios de interação, os gêneros não são determinados
por um indivíduo em particular, eles
nascem como uma produção social, conjunta, instituída e aceita por um
determinado grupo de pessoas.
MUTABILIDADE DOS GÊNEROS TEXTUAIS
Como as
pessoas e a sociedade mudam constantemente, os gêneros também costumam mudar,
evoluir e, até mesmo, desaparecer, caso sua funcionalidade não faça mais
sentido. Além disso, constantemente surgem novos gêneros, para atender a novas
necessidades sociais. É assim que se costuma perceber os gêneros como entidades fluidas e maleáveis, adaptáveis e
modificáveis de acordo com os objetivos e necessidades da sociedade.
De tal forma
os gêneros textuais são essenciais à comunicação, que o linguista Luiz Antônio
Marcuschi chega mesmo a negar a possibilidade de haver interação verbal sem a
utilização de um gênero:
Partimos
do pressuposto básico de que é impossível se comunicar verbalmente a não ser
por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser
por algum texto. Em outros termos, partimos da ideia de que a comunicação
verbal só é possível por algum gênero textual (MARCUSCHI, 2005, p. 22).
Ao contrário
dos tipos textuais, que são
pouquíssimos e facilmente definíveis (narração, argumentação, exposição,
descrição, injunção), os gêneros
textuais são inúmeros e de difícil definição formal, posto que maleáveis,
como já foi dito. Vão de um simples bilhete
a uma reportagem numa revista, de um e-mail pessoal a uma tese de doutorado, de
uma aula expositiva a um sermão. Portanto, podem ser orais e escritos,
textuais ou iconográficos, ou ainda unir várias dessas características.
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OBSERVAÇÃO: falar que
os gêneros são maleáveis e mutáveis é uma forma de se referir aos gêneros em geral,
enquanto inventário diversificado que está à disposição dos falantes para ser
utilizado em cada situação. Porém, nem
todos os gêneros são maleáveis! Há gêneros de estrutura extremamente rígida
e uniforme, não cabendo aos usuários inovar nem adaptar sua estrutura. É o caso
do ofício, do memorando, do projeto de lei,
entre outros. Tais gêneros, entretanto, constituem exceções dentro da vasta
gama de modelos maleáveis existente.
DOMÍNIOS DISCURSIVOS
Os falantes de
uma língua são, antes de tudo, seres sociais, convivendo e interagindo em
diferentes meios, cada qual com suas relações próprias, seus atores, seus
objetivos. A estes diferentes meios de interação dá-se o nome de domínios
discursivos. São, de acordo com Marcuschi (2008, p. 155) “instâncias
discursivas”, que não abrangem “um gênero em particular, mas dá origem a vários
deles”. São exemplos de domínios discursivos, segundo Marcuschi (2008):
“discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.”. Pode-se
falar, no entanto, em muitos outros domínios, como o do discurso de militância,
o discurso literário, o discurso educacional e, mais modernamente, o discurso
das redes sociais.
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Professor Weslley Barbosa