25/11/2020

A LINGUAGEM: conceito, características e tipos


DEFININDO A LINGUAGEM

 

Linguagem é a capacidade comum aos seres humanos de comunicar ideias e sentimentos por meio de um sistema de signos linguísticos que se relacionam e se opõem.

 

O homem é um ser gregário e a linguagem é, talvez, o mais forte traço de convivência humana. Através da linguagem interpretamos e damos sentido ao mundo. Graças a ela expressamos nossas impressões e conseguimos atuar no seio da sociedade. Além disso, ela é simbólica, ou seja, é por meio dela que damos nome às coisas, que fazemos com que algo seja passível de tornar-se objeto do conhecimento humano.

 

Extrapolando o plano puramente referencial, chega-se mesmo a uma aura mística e sagrada: Petter (2019, p. 11), citando o Gênesis e o mito da etnia Komo sobre a criação, semelhantes na descrição da origem das coisas e dos seres por meio da palavra, observa que diversas sociedades revestem a linguagem de um “poder mágico de criar”.

 

RELAÇÃO ENTRE LINGUAGEM E LÍNGUA

 

Sendo a linguagem uma “capacidade”, não um fato, fica claro que ela precisa de algo em que se amparar para manifestar-se. É neste sentido que entram em cena os sistemas de signos, a partir dos quais os falantes/escritores organizam concretamente suas ideias em sentenças significativas e que são sensíveis (no sentido mesmo de potencialmente percebidas, pela audição, pelo tato, pela visão) aos ouvintes/leitores. A estes sistemas de signos damos o nome de línguas.

 

Para chegarmos a tal compreensão, é necessário estabelecer que consideramos aqui, na esteira de Lyons (2013), apenas a linguagem natural, concretizada a partir das línguas naturais, por meio de unidades de representação chamadas de signos linguísticos. Justificamos isso porque não existe apenas a linguagem natural, nem tampouco apenas existem as línguas naturais. Linguagens da computação, por exemplo, são artificialmente criadas, assim como línguas como o esperanto também são artificiais (vale destacar que a LIBRAS é tida, pelo menos por aqueles que a estudam, como língua natural e pode, portanto, entrar no campo de consideração da linguística).

 

A interdependência da linguagem natural com as línguas naturais é tão forte que Lyons chega mesmo a afirmar: “não se pode possuir (ou usar) a linguagem natural sem possuir (ou usar) alguma língua natural específica” (2013, p. 2). É verdadeiramente dificil até mesmo imaginarmos ou definirmos a linguagem sem associá-la, imediatamente, a um ato comunicativo específico e concreto, ou seja, a pelo menos dois indivíduos se valendo de uma língua para comunicar-se.

 

CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM

 

Cremos que existem pelo menos seis características inerentes à linguagem natural e que conseguem diferenciá-la, primeiramente, de outras formas de comunicação e, em segundo lugar, das línguas naturais como realizações específicas da capacidade de linguagem. São elas:

 

- Interpretativa

- Simbólica

- Expressiva

- Interativa

- Variável

- Criativa

 

A linguagem é interpretativa porque é por meio dela que conseguimos tornar a realidade objeto de nossa compreensão, de nossa reflexão. É simbólica porque através da linguagem representamos o mundo e nossas emoções, dando-lhes uma forma, uma imagem sensorial que se nos apresenta mesmo na ausência de tais realidades no momento da comunicação.

 

É expressiva porque podemos utilizar a linguagem não apenas para interpretar e/ou representar o mundo, algo que seria como que uma função cognitiva que no indivíduo nascesse e em seu interior morresse, sem ser transmitido ao mundo exterior. Em verdade, com a linguagem nós externamos nossas impressões das coisas, que tornamos tais coisas passíveis de serem percebidas pelos demais indivíduos. Como decorrência disso, a linguagem é interativa. Porque não apenas expressamos o que sentimos, mas no próprio ato de expressão convidamos o outro ao diálogo, interpretando, concordando ou refutando, respondendo… Estabelece-se uma troca, uma construção mútua de significados, um ato conjunto de recriação do mundo.

 

A linguagem é variável porque a capacidade que possuímos de representar a realidade pode ser posta em prática por meio de inúmeras formas. A variação linguística é antes de tudo uma propriedade de variação da linguagem, por múltipla que é desde sempre, tão múltipla, inclusive, que em certas ocasiões, para representar um sentimento, por exemplo, o indivíduo pode até mesmo abrir mão de utilizar uma língua natural e simplesmente valer-se de um gesto, um silêncio… E tudo isso é significativo. Por fim, a linguagem é criativa, porque por meio dela somos capazes de produzir sentenças jamais ouvidas, tratar de sentimentos até então desconhecidos, e até mesmo expressar não apenas o que está dado, mas também criar novas realidades, estabelecer a ficção.

 

APROFUNDANDO O CONCEITO

 

Por todos esses fatores, é inegável que a linguagem é o ponto de contato do indivíduo com mundo, tão importante, enfim, que sem ela até a própria existência do conhecimento seria impossível, posto que só podemos refletir sobre algo a partir do momento em que lhe atribuímos um nome, um conceito. Expressividade e conhecimento se unem na linguagem.

 

Entretanto, não se confunda “expressão” com “retrato”. A esse respeito, cabe a colocação de Azeredo:

 

A linguagem não retrata o mundo, simplesmente porque o mundo expresso pela linguagem não é um mundo de seres e objetos, mas um mundo de significados. Se a linguagem fosse um retrato do mundo, a ficção e a mentira seriam impossíveis (2013, p. 46).

 

Simbólica e significativa: eis as características da linguagem que fazem dela uma capacidade inerentemente humana. Nenhuma forma de comunicação animal consegue ser tão complexa e alcançar os níveis de expressão dos sentimentos e criação de ficção. A comunicação animal, por mais que sirva a fins práticos de sobrevivência e saciedade das necessidades básicas, jamais consegue alcançar o plano da simbologia e da inventividade. Quando um animal emite um som ou realiza determinado movimento ele está aplicando a convenção própria para representar determinada coisa (alimento, ameaça de predadores etc.). Ele não consegue, fora daquele contexto, repetir o gesto, ou mesmo, num mesmo contexto, inventar uma nova forma de comunicação. O homem não: ele refaz, aperfeiçoa, modifica e é capaz de repetir aquilo para, por exemplo, contar uma história num momento bem distante da situação prática.

 

Jean-Paul Bronckart também trata dessa questão:

 

os episódios comunicativos do mundo animal apresentam um caráter fundamentalmente acionador. A correspondência entre o sinal e a resposta comportamental é direta, não se faz objeto de nenhum procedimento de negociação (e, portanto, de contestação), como mostra a aparente ausência de diálogo: o animal não responde ao sinal emitindo um outro sinal e se engajando em uma “conversação” (BRONCKART, 2012, p. 32 – grifo do autor)

 

Outro ponto importante de ser observado é o que diz respeito à linguagem enquanto objeto da ciência linguística. Neste sentido, embora possamos conceber como possível a existência de “diversas linguagens”, utilizando-se de meios os mais diversos possíveis e adentrando ramos como a tecnologia (linguagem de programação) e outras formas de comunicação (como linguagens de sinais), é basicamente a linguagem humana articulada num sistema linguístico que constitui o objeto da linguística.

 

Sobre a relação entre a linguagem e as línguas, cabe citar o seguinte trecho:

 

Entendendo linguagem como uma habilidade, os linguistas definem o termo como a capacidade que apenas os seres humanos possumem de se comunicar por meio de línguas. Por sua vez, o termo “língua” é normalmente definido como um sistema de signos vocais utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo social ou de uma comunidade linguística (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2020, p. 16).

 

Por tudo o que ficou dito, é possível perceber a linguagem como a capacidade humana de interpretar e dar significados ao mundo por meio da interação linguística. É, ao mesmo tempo, inata e socialmente determinada, porque tal capacidade só se desenvolve com o contato com outros indivíduos. Além disso, é uma forma de agir no mundo, de atuar no seio da sociedade.

 

LINGUAGEM VERBAL, NÃO-VERBAL E MISTA

 

Com o desenvolvimento da ciência linguística, percebeu-se a necessidade de se considerar outras formas de manifestação da linguagem que não seja apenas a linguagem verbal. Neste sentido, surgiram os conceitos de linguagem não-verbal e linguagem mista. Vejamos:

 

- Linguagem verbal: constituída a partir de palavras e textos.

- Linguagem não-verbal: constituída a partir de símbolos, imagens, gestos etc.

- Linguagem mista: é aquela que une palavras e simbolos ou imagens

 

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Professor Weslley Barbosa